Nunca fui muito bom em fazer coisas sem muita programação ou planejamento, mas cada vez que tiro férias, tento obstinadamente deixar a vida seguir seu curso sem muita interferência. Em outras palavras tento não atrapalhar o curso regular da vida e dos fatos.
A programação das férias para esse ano já começaram aparentemente de maneira desordenada, acabei fracionando minhas férias em duas metades, coisa que nos últimos 7 anos nunca aconteceu. Não havia outra alternativa, uma nova equipe estava sendo montada no trabalho uma auditoria estava para acontecer e eu não poderia me afastar por tanto tempo. A correria no trabalho de minha mulher também indicava que esse ano não conseguiríamos tirar férias juntos.
Não havia feito planos, porém sabia de uma única coisa. A vida seria em duas rodas.
Na segunda-feira fiz os preparativos para aquilo que seria a minha primeira viagem em duas rodas de longa duração. O Destino a cidade de Itararé, fronteira de São Paulo com o Paraná, noroeste de São Paulo.
A última vez que fui pra lá a estava perfeita em todo o trajeto, não existe convite melhor para colocar a moto pra rodar.
Instalei os alforjes na moto e dei algumas voltas na cidade para verificar como ele se comportava.
Motos feitas 100% para velocidade como a Daytona não vêem preparadas para carregar bagagens, mas os alforjes se acomodaram bem.
Separei um kit de roupas e distrações que julgava adequado (livros e notebooks). Na terça-feira, abasteci a moto e rumei para a Rodovia Castelo Branco.
O clima estava ótimo e o trânsito tranqüilo, aos poucos me afastava da capital o sol no verde das plantações e nas poucas áreas de florestas que ainda existem, trazia um certo ar de tranqüilidade.
A Daytona avançava a 130, 140 como se estivesse voando, o motor roncava em um ritmo constante, mesmo de jaqueta e os equipamentos de segurança a sensação de liberdade é fascinante.
A única preocupação era com o consumo, motos como a Daytona não são feitas para viagens a grandes distância e até por questões de conforto recomenda-se uma parada a cada 150 quilômetros.
Saí da Rodovia Castelo Branco e peguei um ramal no município de Tatuí que liga a Castelo Branco a Raposo Tavares. Do ponto mais alto do ramal dava pra se ver extensas plantações, uma imensidão verde que define a principal característica agrícola do nosso país.
A parada estava programada para o posto Borsatto na Rodovia Raposo Tavares, a 150 quilômetros de distância da origem da jornada, bem no final do ramal.
Como de costume comi um pão-de-queijo e uma coca-cola. Abasteci a moto e toquei para o destino Itararé, mais 180 quilômetros de jornada.
A Daytona passava pela Raposo Tavares e suas curvas como se nada mais existisse na sua frente, os 125 cavalos do motor de três cilindros e 675 cilindradas, trabalhavam com folga entre 6000 e 8000 giros, nem o arrasto aerodinâmico provocado pelos alforjes era notado.
Em Capão Bonito cheguei a última etapa da viagem, a estrada que liga a Raposo Tavares ao Paraná, e passa por Itararé, os últimos 100 quilômetros que faltavam.
A única insegurança era quanto ao consumo, embora o computador da Daytona marcasse um consumo médio de 18 km/l ou 5,5 L/Km, ter uma pane seca todo carregado e sozinho não seria nada agradável.
Procurei decorar os números do socorro da Via SP, concessionária que explora e conserva as estradas da região e justiça seja feita, muito bem conservadas.
A chegada em Itararé foi emocionante, sucesso da primeira jornada, procurei o marco da cidade para tirar fotografias, mas como estava no meio de muita grama tive receio de ficar preso com a moto ali no meio.
Rumei para a casa da família de minha esposa, a lisura do asfalto nos 350 km que separam a São Paulo de Itararé, não se comparam com a terrível buraqueira na entrada de Itararé.
Passei a noite na casa e no dia seguinte voltei para São Paulo, o caminho é sempre melhor que a estalagem, para quem tem o espírito andante como diz minha avó e a estrada estava me chamando de volta.